domingo, 20 de novembro de 2011

A felicidade possível

Só quem está disposto a perder tem o direito de ganhar. Só o maduro é capaz da renúncia. E só quem renuncia aceita provar o gosto da verdade, seja ela qual for.

O que está sempre por trás dos nossos dramas, desencontros e trambolhões existenciais é a representação simbólica ou alegórica do impulso do ser humano para o amadurecimento.
A forma de amadurecer é viver. Viver é seguir impulsos até perceber, sentir, saber ou intuir a tendência de equilíbrio que está na raiz deles (impulsos). A pessoa é impelida para a aventura ou peripécia, como forma de se machucar para aprender, de cair para saber levantar-se e aprender a andar. É um determinismo biológico: para amadurecer há que viver (sofrer) as machucadelas da aventura e da peripécia existencial.

A solução de toda situação de impasse só se dá quando uma das partes aceita perder ou aceita renunciar (e perder ou renunciar não é igual, mas é muito parecido; é da mesma natureza). Sem haver quem aceite perder ou renunciar, jamais haverá o encontro com a verdade de cada relação. E muitas vezes a verdade de cada relação pode estar na impossibilidade, por mais atração que exista. Como pode estar na possibilidade conflitiva, o que é sempre difícil de aceitar.

Só a renúncia no tempo certo devolve as pessoas a elas mesmas e só assim elas amadurecem e se preparam para os verdadeiros encontros do amor, da vida e da morte. Só quem está disposto a perder consegue as vitórias legítimas.

Amadurecer acaba por se relacionar com a renúncia, não no sentido restrito da palavra (renúncia como abandono), porém no lato (renúncia da onipotência e das formas possessivas do viver).

Viver é renunciar porque viver é optar e optar é renunciar.

Renunciar à onipotência e às hipóteses de felicidade completa, plenitude etc é tudo o que se aprende na vida, mas até se descobrir que a vida se constrói aos poucos, sobre os erros, sobre as renúncias, trocando o sonho e as ilusões pela construção do possível e do necessário, o ser humano muito erra e se embaraça, esbarra, agride, é agredido.
Eis a felicidade possível: compreender que construir a vida é renunciar a pedaços da felicidade para não renunciar ao sonho da felicidade.

(Artur da Távola)

terça-feira, 15 de novembro de 2011


Te vi entrando naquele táxi, rumo a um lugar onde eu não sabia qual era, saindo da minha vida, da nossa história... Porque tinha que ser assim?
Essa como toda partida, foi tensa, triste, trágica...  Agora não mais regressarás, pelo menos, não mais serás tu. Mas, outro homem com novos planos, novos sonhos, nova vida.
Uma vida que não mais me cabe.
Fostes, mas não me levastes. Mas também não fostes só. Levastes contigo meus sonhos, nossos beijos, minhas lembranças daquelas noites de juras de amor sem fim, em que eras tão meu e eu unicamente tua...
O que farei eu? Falta-me um pedaço do meu coração, que também foi junto contigo...
Outras pessoas se adequarão à tua nova vida, farão parte dela. Outras tantas também farão parte da minha. Virão ainda tantos homens, com os quais tentarei suprir a falta que você me faz, sem surpreender-me constatarei apenas uma coisa a mais: Será em vão...
Minhas mãos não se adaptarão a outras, meu corpo não encontrará outro com o qual seja o encaixe perfeito, assim como nenhum outro belo par de olhos conseguirá fazer com que os meus reflitam o brilho das estrelas, nenhuma boca saciará a minha como só tu consegues fazer. Conseguias...
Porque partiste assim?
Porque não levaste contigo tudo isso?
Porque não transformas essa dor em riso, essa saudade em presença, e esses sonhos... Ah, esses sonhos...  Serão sempre a tua presença na forma mais dolorida, mais sofrida e mais ausente...
Não dissestes que eu era teu mundo?
Que nós bastávamos a esse mundo tão cruel e frio?
Então por qual motivo tu permitiste que ele vencesse nosso amor e nos impusesse esse abismo sem fim?
Nunca mais te terei!
Dormirei sentindo tua falta, acordarei te buscando nesse espaço frio e triste e sonharei contigo todas as noites.
Ah!  Esse momento será, sem dúvidas,  o mais importante e intenso de todo um dia de jornada... O momento em que apagarei da minha mente que ninguém mais estará me esperando em casa depois de um dia exaustivo, que não terá ninguém para segurar minha mão quando eu tiver medo de relâmpago ou escuro, que não terei mais ninguém para quem eu precise preparar uma comidinha gostosa, ou a minha companhia para as comédias românticas...
E estarei aqui sempre, à espera de quem não chegará...